quarta-feira, 29 de outubro de 2008

A escola, setor a setor

1- “Diga aí, Viradouro, meu dengo!”
Digo sim: é sobre a encantada Bahia, umbigo do Brasil, encontro do Orum/Ayê. E como a cultura é o chão do nosso Brasil, que é criado e recriado constantemente, vai aqui nosso canto de fé nas energias renováveis.

- O fóssil é passado, “véi”; se liga no combustível do futuro...

Do infinito, nesta corrida contra o tempo, quase eterna busca, surgem o biocombustível nos braços abertos do Bonfim, senhor da doçura. É festa nas terras celebrantes do sem-fim, pois não importa quão longa é a noite, o dia virá certamente...

- Vissi, pobre mortal, se avexe: a onda massa, é a bio-massa!

2- Verde combustível, porreta matriz energética.
Deus fez uma linda cidade, dando-lhe o nome do próprio filho. Os tambores ecoam seus sons pelas ruas do Pelourinho multicor, em casario de ver-a-vida. Sobe e desce de ancas amadianas e vadios vadinhos. Escambo de sapiência popular. O Orum sempre disse que o conhecimento é como um jardim, se não for cultivado, nada pode ser colhido; e que conhecer não é a coisa principal, mas sim as ações! São deuses que bradam espadas, chamam o vento e dobram rugas do tempo, vaticinando: há energia verde limpa que vem das entranhas de Ayê (terra).

O novo canto de Ossanha das matas, deus da ecologia e padroeiro dos naturalistas, celebra as sementes perfeitas cultivadas em solo baiano, é a agricultura que faz sumir carbono, mecânica do sustento renovável.

3- “No tabuleiro da baiana tem.... Ricinus communis, a mamona metida a besta!”
Pisar a terra dura do semi-árido, que como a planta é selvagem, tóxico e resistente. O caroço verde e espinhento da mamona, grãos oleaginosos e velho conhecido dos meninos do interior do Brasil como munição ideal para estilingues, passou a ter uma vocação insuspeitada como fonte de energia social. E o sertão da Bahia entrou no mapa-múndi das forças alternativas. Encostar em esquinas-tabuleiros transbordantes da verdinha, porque aqui tudo é perto, toda hora tá cedo, e planta mamona que resolve, esse óleo é limpeza.

4- Oxente, Mainha, vixi que tem dendê na panela e no motor!
Sabor de dengo. Costa do dendê.Preta panela de moqueca coral, banho de óleo de palma cheiroso, pele morena à cravo e canela. Tira um pouco do tempero e enche o tanque de dendê!

- Quer andar de carro velho, amor? Então venha: completa e envenena com a quentura da fervura baiana.

5- Axé, o protócolo de Kioto é meu rei!
-Que consumição: o carbono tá a peso de ouro, será que o mundo vai bater a caçuleta?

Abençoado porto seguro a jorrar metano tirado do lixo, protegendo as águas, mar da vida. Ponte-cordão umbilical que flutua sobre o aminiótico Atlântico; pau-brasil possuindo Europa, África, o mundo. Os países ricos precisam cumprir o Protocólo do Bem e diminuir a emissão de gases poluentes, e nós, no Brasil, é que temos a solução. É na Bahia onde temos terra, sol, água e gente boa para trabalhar; Bahia parideira formosa de filhos que mais que nascer, estréiam.-

-Reduzam os gazes, olha o buraco! O oceano está subindo, senão o sertão vai virar mar!

6- Êta povo arretado, recicla Bahia.... Me amarro num bagaço!
... E pra completar o clima, Maculelê do Etanol, rei da valentia.

- Eu sou um menino, minha mãe soube me educar, quem anda em terras alheias, pisa no chão devagar...

Dançar a dança que os escravos praticavam no meio dos canaviais, com cepos de cana nas mãos, substituindo armas de verdade. Porque daí vem o bagaço, que é arma contra o desperdício e o esgotamento.

O sol está ficando forte nas divinas plantações recheadas de talos; as cores já estão mais vivas sobre a luta; as roupas cada vez menores na terra da mestiçagem.

- Você já foi a Bahia, nega? Pois vá: O vento não quebra um bambu que a ele se dobra.

7- Ópaíó: O trovão das Usinas da Alegria na Chapada Diamantina!
Lavoura de sonho. A roda da fortuna começou a girar no sertão: as usinas estão a todo vapor. São relâmpagos do progresso!

-Agora, é só chover... Tempestade e justiça....

E como chuva é trovão, terminamos esta prece pelo biocombustível-Brasil no raio de luz do encontro, no infinito, dos deuses vermelho-e-branco apaixonados. Porque na floresta, enquanto as ramas discutem, as raízes beijam-se. E o beijo de Yansã em Xangô sela o carnaval da zuada, a folia de amores proibidos, amores no infinito...Amantes enlaçados pela luz que racha o paraíso, reflexo de heranças. Trovão da sedução: a lâmina da espada de fogo da deusa das tempestades, que contribui para a fertilidade do solo, encontra o punho do destemido.

- Se você soubesse o valor que o preto tem, tu tomava um banho de piche....

Milton Cunha
Carnavalesco

Marcos Lira
Presidente do Gres Unidos do Viradouro

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